A microempreendedora Beatriz Oliveira Costa, que mora em Miracema, no Rio de Janeiro, descobriu que seu ciclo menstrual começou a falhar, o que foi o primeiro sinal de que algo estava errado. O sangue não caía mais todos os meses. Vinha com coágulos ou aparência de borra de café. Até que Beatriz menstruou pela última vez aos 35 anos.
Aos 41 anos, ela relembra: “Eu estava cansada, o meu humor ficou ruim, perdi a libido, passei a acordar no meio da noite e senti calor”. Só que esses sintomas são muito parecidos com os da fibromialgia, uma doença que tenho desde os vinte anos. Os médicos não pensaram que era a menopausa.
Beatriz começou a fazer terapia de reposição hormonal, mas não suportou os efeitos colaterais, como vômitos e tontura. Então, ela segue a recomendação médica de consultar um nutricionista, recebendo acompanhamento psicológico e prática de musculação para evitar a osteopenia e a osteoporose.
Ela acredita que a violência que sofreu de um parente próximo é causa da fibromialgia e da menopausa precoce. O principal fator que acelera o envelhecimento do corpo é o estresse, e ela acredita que com os ovários não seria diferente.
A Menopausa Precoce: O Que é e Como Afeta as Mulheres
O termo “menopausa” refere-se ao fim da vida reprodutiva das mulheres, geralmente após os 50 ou 51 anos. No entanto, quando ocorre entre os 40 e 49 anos, é considerada precoce.
Embora a menopausa seja um processo natural na vida de uma mulher, a menstruação não voltar a acontecer antes dos 40 anos é sinal de insuficiência ovariana prematura, também conhecida como insuficiência ovariana primária (IOP). Para ser considerada menopausa, uma mulher deve ficar sem menstruar por um ano. No entanto, os critérios são diferentes para a IOP, que é diagnosticada quando uma mulher para de menstruar antes dos 40 anos ou tem ciclos menstruais de mais de 120 dias.
O diagnóstico da IOP é feito por meio de um simples exame de sangue que mede os níveis do hormônio FSH (hormônio folículo-estimulante), que é secretado pela glândula pituitária e regula a função ovariana. Caso uma mulher esteja tomando pílulas anticoncepcionais ou outra medicação hormonal, ela deve interrompê-las antes de fazer o teste para obter resultados precisos.
A IOP é um diagnóstico extremamente grave, pois indica que a probabilidade de engravidar é mínima. A ginecologista Cristina Laguna, presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Febrasgo, afirma: “Além disso, a mulher com IOP precisará tomar medicamentos até a idade que normalmente ocorreria a menopausa, que é por volta dos 50 anos.”
Estudos recentes mostram que pouco mais de 3% das mulheres sofrem de IOP, mas esse número está aumentando à medida que a medicina começa a dar mais importância a esse problema e a investigar mulheres que apresentam sintomas.
As causas da IOP podem ser diversas, incluindo fatores genéticos, doenças autoimunes como diabetes e hipotireoidismo, cirurgias de remoção dos ovários, radioterapia e quimioterapia. No entanto, em muitos casos, as causas permanecem desconhecidas. Um ginecologista da Febrasgo afirma: “Em 60 a 80% dos casos, investigamos todas as possibilidades e não encontramos nenhuma causa específica.”
Desafios com o Diagnóstico da Menopausa Precoce
O diagnóstico e o tratamento precoce são essenciais para reduzir as consequências da insuficiência ovariana prematura. No entanto, as mulheres geralmente demoram a descobrir o que têm. Pesquisas científicas indicam que muitas mulheres passam por três a cinco consultas com profissionais de saúde antes de receberem um diagnóstico adequado. Em vez de investigar a causa dos sintomas, os profissionais muitas vezes tentam regularizar a menstruação das mulheres.
O uso de terapia hormonal é um obstáculo adicional para o diagnóstico da menopausa precoce. Após a interrupção da pílula anticoncepcional, as mulheres frequentemente descobrem que não estão mais menstruando. A ginecologista Cristina Laguna afirma que o uso de uma combinação de estrogênio e progestagênio não é tão preocupante, pois a mulher está recebendo hormônios, mas isso pode mascarar os sintomas da IOP.
No entanto, como uma mulher pode saber se está na menopausa se está recebendo terapia hormonal que interrompeu seus ciclos menstruais? A investigação é necessária se ela começar a apresentar sintomas como ondas de calor ou secura vaginal. A médica afirma que, se não, ela só saberá que entrou na menopausa quando terminar a medicação.
Impacto da Menopausa Precoce na Saúde
O risco de desenvolver doenças cardíacas e ósseas aumenta quando os ovários param de produzir estrogênio, o principal hormônio feminino. A IOP pode significativamente afetar a saúde das mulheres. As pacientes podem experimentar mudanças no humor, depressão, perda de qualidade do sono, secura vaginal, dor durante o sexo e redução do desejo sexual a curto prazo. Consequências mais graves, como perda óssea, risco de osteoporose, aumento do risco de doenças cardiovasculares e redução da expectativa de vida, podem surgir com o tempo.
Opções de Tratamento: Hormonal e Não Hormonal
Cristina Laguna, da Unicamp, afirma que a reposição hormonal é necessária na insuficiência ovariana prematura, exceto em casos de contraindicação, como câncer de mama. “O tratamento é necessário, porque o ovário parou de produzir hormônios na idade que ele tinha que estar funcionando”.
Aquelas com PIO precisam de doses mais altas de estrogênio e progesterona do que mulheres na menopausa normal. As doses são diferentes porque as mulheres mais jovens precisam de mais hormônios para recuperar o equilíbrio.
A opção hormonal é considerada segura, de acordo com a médica: As evidências mostram que mulheres com PIO que fazem ajustes hormonais não apresentam maior risco de câncer de mama.
É possível encontrar alternativas de tratamento se o paciente não conseguir ou não quiser fazer uma reposição hormonal. A principal preocupação neste caso é que as mulheres estejam bem informadas sobre os efeitos do IOP. Em seguida, a gente lança mão de outras recomendações de estilo de vida, como alimentação saudável e atividade física para tentar reduzir os efeitos ósseos e metabólicos”, explica a médica.