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Proteínas de Algas Marinhas: Uma Revolução no Combate à Resistência Bacteriana

Freepik Imagem detalhes de algas.

A resistência bacteriana aos antibióticos é um dos maiores desafios da medicina moderna. Nesse cenário, uma nova abordagem desponta como uma solução promissora: o uso de proteínas extraídas de algas e esponjas marinhas para potencializar os efeitos de antibióticos clássicos. Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC), publicada nos “Anais da Academia Brasileira de Ciências”, revelou que essas combinações podem reduzir em até 95% a dosagem necessária de antibióticos, oferecendo um tratamento mais eficaz contra infecções bacterianas, inclusive aquelas causadas por linhagens resistentes. 

O Poder das Lectinas 

As lectinas, proteínas que se ligam à superfície de células bacterianas, desempenham um papel fundamental nesse processo. No estudo, os cientistas extraíram e isolaram oito tipos de lectinas provenientes de algas e esponjas da costa cearense. Essas proteínas foram testadas em combinação com dois antibióticos amplamente usados na medicina: a oxacilina e a tetraciclina. 

Os experimentos foram realizados com duas linhagens de Staphylococcus aureus e uma variedade multirresistente de Escherichia coli, ambas associadas a infecções graves em humanos. Os resultados foram impressionantes. Ao serem aplicadas junto à tetraciclina, algumas lectinas aumentaram significativamente a eficácia do antibiótico. Entre elas, as extraídas de algas vermelhas do gênero Bryothamnium se destacaram, permitindo uma redução de até 95% na dose necessária para inibir os microrganismos. 

Mecanismo de Ação 

De acordo com Rômulo Farias Carneiro, autor principal do estudo, as lectinas atuam fragilizando as células bacterianas, bloqueando seus mecanismos de defesa contra os antibióticos. Essa interação permite que o medicamento permaneça ativo por mais tempo, combatendo a infecção de maneira mais eficaz. Essa descoberta abre caminho para tratamentos mais eficientes e menos agressivos, já que doses menores de antibióticos significam menos efeitos colaterais para os pacientes. 

“A combinação de lectinas e antibióticos oferece uma abordagem inovadora, atacando as bactérias em duas frentes diferentes. Isso não apenas reduz as chances de sobrevivência dos microrganismos, mas também dificulta o desenvolvimento de resistência bacteriana”, explica Carneiro. Em alguns casos, bactérias previamente resistentes voltaram a ser sensíveis aos antibióticos quando tratados com essa combinação. 

Benefícios e Limitações 

Os benefícios da utilização de lectinas são amplos. Além de reduzir os custos com medicamentos, essa estratégia pode minimizar os efeitos adversos dos antibióticos, que frequentemente incluem reações alérgicas, danos ao microbioma intestinal e toxicidade renal ou hepática. Contudo, o estudo também mostrou que nem todas as lectinas são igualmente eficazes. Por exemplo, enquanto algumas potencializam a tetraciclina, não apresentaram efeito significativo na atuação da oxacilina. Isso sugere que os resultados dependem das características específicas de cada combinação. 

Implicações Futuras 

As descobertas da UFC podem revolucionar a abordagem terapêutica contra infecções bacterianas. Com a crescente resistência aos antibióticos, encontrar soluções inovadoras é uma necessidade urgente. A utilização de lectinas como agentes coadjuvantes oferece um caminho viável e promissor. 

Os pesquisadores estão agora empenhados em explorar outras combinações entre lectinas e antibióticos. Estudos preliminares sugerem que as lectinas podem atuar como transportadoras, direcionando os antibióticos diretamente para as células bacterianas, o que potencializaria ainda mais sua eficácia. 

O Cenário Global 

A resistência bacteriana ameaça causar até 10 milhões de mortes anuais até 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), caso os países não adotem medidas eficazes. Nesse contexto, o estudo da UFC é um marco importante na busca por soluções sustentáveis e inovadoras. 

Além disso, as algas e esponjas marinhas representam uma fonte rica e pouco explorada de compostos bioativos. O aproveitamento desses recursos naturais não apenas contribui para o avanço científico, mas também destaca a importância da preservação dos ecossistemas marinhos. 

Próximos Passos 

O próximo desafio é transformar essas descobertas laboratoriais em aplicações clínicas. Isso envolve estudos mais aprofundados sobre a segurança e eficácia das lectinas em humanos, bem como o desenvolvimento de métodos para produção em larga escala. 

Os pesquisadores também planejam investigar a combinação das lectinas com outros tipos de medicamentos para ampliar ainda mais seu potencial terapêutico. “Nossos resultados são apenas o começo. Carneiro afirma que ainda há muito a explorar.

O uso de lectinas extraídas de algas e esponjas marinhas representa uma abordagem revolucionária no tratamento de infecções bacterianas. Ao reduzir drasticamente a dosagem de antibióticos necessária, essa estratégia não apenas aumenta a eficácia dos tratamentos, mas também contribui para combater a resistência bacteriana, um dos maiores desafios da saúde pública mundial. 

Com mais pesquisas e investimentos, essa inovação tem o potencial de transformar a maneira como enfrentamos infecções graves e salvar milhões de vidas em todo o mundo. 

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