Uma nova pesquisa britânica revela certamente uma preocupação crescente para a saúde pública: as aves urbanas, como corvos, patos e pombas, podem carregar bactérias altamente resistentes a antibióticos. Este estudo destaca assim a necessidade urgente de políticas de saúde adaptadas para lidar com a resistência antimicrobiana (RAM) fora dos ambientes hospitalares tradicionais.
A Pesquisa e Seus Resultados
O estudo britânico envolveu a análise de 700 amostras bacterianas retiradas dos intestinos de 30 espécies de aves urbanas, coletadas em oito países, incluindo o Reino Unido. Os pesquisadores identificaram uma preocupação significativa: as aves que habitam áreas próximas aos humanos, como parques e áreas urbanas, apresentam uma variedade maior de cepas bacterianas e uma presença mais pronunciada de genes resistentes a antibióticos em comparação por exemplo com aquelas que vivem em regiões isoladas, como montanhas.
De acordo com o professor Samuel Sheppard, da Universidade de Oxford, as aves urbanas possuem um potencial significativo para transportar e disseminar a resistência antimicrobiana. Esses animais podem transferir bactérias resistentes a outras espécies, incluindo animais de criação destinados ao consumo humano e animais domésticos, como pets. “A capacidade dessas aves de propagar resistência antimicrobiana é preocupante e pode ter implicações graves para a saúde pública”, afirma o pesquisador.
Entendendo a Resistência Antimicrobiana (RAM)
A Resistência Antimicrobiana (RAM) é um fenômeno crítico que ocorre quando micróbios patogênicos desenvolvem resistência a antibióticos. Normalmente, antibióticos são usados para eliminar bactérias causadoras de doenças. No entanto, quando essas bactérias se adaptam e sobrevivem ao tratamento, tornam-se resistentes, tornando os medicamentos menos eficazes.
O estudo destaca que corvos e patos urbanos carregam genes associados à resistência a diversos antibióticos usados comumente em humanos. Essas aves, portanto, podem atuar como “reservatórios” de bactérias resistentes, aumentando o risco de transmissão de infecções resistentes a antibióticos para outros animais e, eventualmente, para os humanos.
A Gravidade do Problema
Para ilustrar a magnitude do problema, é importante considerar os dados sobre infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos. Em 2022, na Inglaterra, mais de 58 mil pessoas contraíram infecções graves devido a essas bactérias, resultando em mais de 2 mil mortes. Este cenário alarmante indica que a resistência antimicrobiana está se expandindo além dos ambientes hospitalares e clínicas, alcançando a vida selvagem e os animais que vivem próximos aos centros urbanos.
Os pesquisadores alertam que a disseminação de bactérias resistentes para aves urbanas pode ter consequências graves para a saúde pública. A presença desses micróbios resistentes em aves que convivem com humanos aumenta o risco de transmissão de infecções resistentes para a população.
Medidas Necessárias
Dada a gravidade da situação, é essencial adotar medidas para controlar e prevenir a disseminação de bactérias resistentes. As autoridades de saúde devem considerar novas estratégias para monitorar e mitigar a resistência antimicrobiana em ambientes não hospitalares, incluindo áreas urbanas onde essas aves são comuns. Além disso, campanhas de conscientização e práticas adequadas de manejo de resíduos e controle de infecções podem ajudar a reduzir a disseminação de bactérias resistentes.
O estudo também sugere a importância de continuar a pesquisa para entender melhor a dinâmica da resistência antimicrobiana em ambientes urbanos e a interação entre aves e micróbios resistentes. A colaboração internacional entre pesquisadores e autoridades de saúde será crucial para enfrentar esse desafio crescente e proteger a saúde pública global.
Em conclusão, a descoberta de que aves urbanas podem carregar bactérias resistentes a antibióticos destaca um problema emergente que exige atenção urgente. A resistência antimicrobiana não é mais um problema restrito a hospitais, mas uma ameaça crescente que pode afetar a saúde pública em contextos urbanos. É crucial ajustar políticas de saúde para combater a resistência antimicrobiana e proteger a população.